domingo, 3 de janeiro de 2016

Destino...

destino...

O caudal aumenta
num rio que se alimenta
de um choro calado
o poeta escreve
e a resposta segue
num papel rasgado

 o lume crepita
e uma alma grita
um amor sufocado
o novo ano começa
e com ele a promessa
de não ficar calado

ao passar por ela
com toda a cautela
p’ra não escorregar
do bolso tirou o papel
que pintou e a dizia amar

a chuva era tanta
e a doce criança
que tanto corria
deu-lhe um encontrão
o papel foi para o chão
tanto que chovia

e as letras escritas
eram apenas pintas
naquele papel
e o amor sufocado
continuou calado
só o sabia o pincel

© Manuela Rodrigues

sábado, 2 de agosto de 2014

Vazia...

Vazia…

Abandonada...
ali ficara
Junto ao jazigo da pessoa amada
Uma cadeira velha de pintura desmaiada.

Flores que há muito morreram
Lembranças dos que sofreram
Ali foram esquecidas
Secas...
gritavam a dor de uma partida
E quem se sentava naquela cadeira
Teria ali feito um dia a sua despedida.

Abandonada...
ali estava!
Um quadro de saudade
Era o que minha alma via
Junto ao jazigo da pessoa amada
Uma cadeira vazia.


© Manuela Rodrigues
imagem retirada daqui

sábado, 15 de março de 2014

Vida

imagem retirada daqui
Vida


Palavra pequena
Para uns, bem terrena
Para outros, espiritual
Uns do bem, outros do mal.

Vida…

Com marés de tormenta
Fases de vida lenta
Desespero acutilante
Solidão desesperante.

Vida…

Ondas de bonança
Sorrisos de criança
Paixões acalentadas
Alianças concretizadas.

Vida…

Amizades verdadeiras
Duram vidas inteiras
Sentimentos desprovidos
De interesses poluídos.

Vida…

De bons e maus momentos
A vida de todos é composta
O segredo está nos sentimentos
Que cada um nela aposta.


© Manuela Rodrigues

domingo, 9 de março de 2014

Maria do Mar

imagem retirada daqui
Maria do Mar

Maria do Mar assim a chamaram
Quando a encontraram numa praia qualquer
Maria do Mar assim se chamava a menina traquina
Que agora crescida era uma bela mulher.

Ao seu redor o mistério adensava
Aquela menina mulher, tão bela e delicada
Que ao andar até parecia bailar
Lembrava o mar quando a areia vem beijar.

Há tempos infindos fora encontrada,
Ninguém sabe ao certo o que acontecera
Ao aparecer num bote em redes enrolada
Numa madrugada fria, onde mesmo a lua se escondera.

Conta-se que aquela beldade seria uma sereia
De mares distantes fugida de um rei
Que um dia ousara desobedecer
E como castigo viera a emudecer

Maria do Mar chorava em silêncio
Recordando o canto das irmãs sereias
Perdera-se naquela escura madrugada
Apanhada por umas velhas redes alheias

Numa alvorada, à sua janela, ouviu ao longe
Guitarras chorando, vozes embargadas
Cantando baladas viradas para o mar
Saiu a correr para poder ver as irmãs encantadas

Chegada ao mar, atirou-se à água
De alma magoada, cansada de esperar
Eis que de repente uma mão urgente
De força iminente a elevou no ar

E aquela menina, sereia dos mares
Mulher encantada de outros lugares
Viu quebrado o feitiço e sem dar por isso
Sua voz entoou e viajou ali pelos ares.

Olhos de mel cruzaram os seus
E seu coração descompassou
Aquele estranho sorriu docemente
E conta si, Maria do Mar segurou.

Como por magia, naquele momento
A dúvida se desvanecera
Foi por Amor que aquela sereia
Fugiu do rei e desobedecera.


© Manuela Rodrigues

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Viagem... sem regresso

imagem retirada daqui

Viagem … sem regresso

Senhor Sonho e Dona Aspiração
De malas feitas partiram mão na mão.
Deixaram para trás a Dona Austeridade
Que lhes infernizou a vida tolhendo-lhes a felicidade.
Com um bilhete de ida, sem regresso marcado
No país da Esperança esperam novo fado.
A Saudade foi atrás, menina ingénua e doce
Seguia sempre o Senhor Sonho fosse ele para onde fosse.
Na estrada agora trilhada um sentido apenas vigora
O caminho da alegria que os alimentou outrora.
Na casa da Esperança, Novos Mundos os esperam
Aqueles sonhos guardados que quase esqueceram.
E quem sonha sempre alcança, já dizia o poeta
Para aqueles que acreditam, a Esperança não pára quieta.
Que o Ano Novo que se avizinha seja de realizações
Tomemos o exemplo destes dois anfitriões,
Pois sem medo de sonhar ousaram aspirar melhor
Senhor Sonho e Dona Aspiração personificam o Amor!



©Manuela Rodrigues

domingo, 3 de novembro de 2013

Ponte

imagem retirada de teamoweb.com
Ponte

É noite e em silêncio o céu chora
Sentindo saudade de quem lá não mais mora
E de mansinho a chuva cai e molha

Molha o olhar de alguém que aprende a andar
Num mundo cruel feito de um amargo fel
De contradições, amores, desamores, desilusões

Num dia molhado, por ventos toldado eis que a coragem surge
A vontade de andar, de o mundo enfrentar é mais forte e urge
E aquele alguém não se detém e avança como uma criança
Atravessa a ponte e olha o horizonte com olhos de esperança

Perto do fim um sentimento ruim quase deita tudo a perder
E aquele alguém que não é ninguém sente o que é chover
Abençoado assim se sentiu e caminhou até ao fim
Onde a luz brilhou e um sorriso esboçou para alguém… não para mim.


© Manuela Rodrigues